No centro do Rio de Janeiro, tudo é vitrine e palanque.
As camisetas estendidas na calçada não vendem apenas algodão estampado, mas ideologias, memórias e provocações, Marx, Lula, Paulo Freire dividem o varal com slogans que, se não vendem, pelo menos gritam.
Ali, toda esquina tem algo colado: um cartaz do Marcelo D2 convida a ouvir o samba reinventado, enquanto na rua a trilha é o batuque dos passos apressados misturados ao som de buzinas.
Um banheiro de bar vira mural de adesivos, manifestos, frases soltas, piadas internas da cidade.
E cada parede riscada por grafites e tags é um diário coletivo de quem passa e precisa deixar sua marca, mesmo que seja só um nome rabiscado ou um rosto desenhado por quem sabe que a cidade engole mas também revela.
Do alto, o mural de uma mulher rodeada de livros enfeita o concreto cinza com cor e afeto. É como se dissesse: entre prédios espelhados e vidraças de capital, ainda existe espaço pra memória e para quem lê o mundo com olhos atentos.
E aí, tem a padaria, o boteco, as lixeiras empilhadas, o garçom que fala alto, o copo americano na mesa. Tem sapato pendurado no fio, lembrança de quem passou por ali, um sinal pra quem sabe ler esses códigos urbanos.
E tem igreja em pôster na parede, lembrando que, no centro, a fé também divide espaço com a farra, com a cerveja, com o samba.
No centro, tudo ecoa: o passado e o futuro se trombam na calçada.
E quem anda com a câmera no peito vira testemunha dessas histórias, que não precisam de manchete, mas de um olhar que as acolha.